Capítulo
Um: Poltergeist
Anormalidade
excessiva era o que a família Mason desfrutava desde seus
antepassados. Mãe solteira, severa, dedos grossos, gorducha, crespos
cabelos sombrios e lábios carnudos, a sra. Laura responsabilizava-se
por seus dois problemáticos filhos adotivos: Os gêmeos Alfred e
Rose. Cabeçudo, tímido, magricela, medroso, ossudo e baixo, Alfred
possuía a reputação de um garoto desiquilabrado que afirmava
receber a visita de uma entidade durante as incessantes madrugadas de
insônia;
Já
Rose Manson orgulhava-se de ser o contrário do irmão; rebelde,
alta, negros e curtos cabelos, corajosa e possuinte de um amplo azar,
era reputada como mal exemplo; tendo sido expulsa de 3 escolas, Rose
associava-se com os outros “cassos
irrecuperáveis”
de seu bairro.
Os
cabelos, olhos e roupas pretas já eram um padrão dos Manson. A casa
conservava um desagradável aroma de folhas de chá velhas, odor que
claramente enxotava visitantes da vizinhança; ou crianças
bisbilhoteiras que tentassem buscar seja qual for a prova de que a
família retesse convívio com bichos-papões e vampiros.
Era
tarde de sábado em West
Coast,
jazia por toda a vila a sufocante quentura de verão. No parque, as
crianças cediam um intervalo nos esportes para repousarem sob as
árvores locais, ainda que as sombras emitidas pelas folhas não
obtivessem sucesso em sanar o calor demasiado. Murchado e morto, o
gramado do ambiente dissolvia-se confrome os presentes os apertavam;
o verão extraía drasticamente o encanto verde que o parque
proporcionava a quem nele optava por passear.
— Não
entendo porque precisamos ficar distanciados dos outros. — a voz
estressada e rouca de Rose Mason rompeu o silêncio estabelecido
entre ela e o irmão. — Estão todos lá próximos dos brinquedos,
pra que ficarmos em baixo da árvore mais distante de todos? —
questionava, impaciente, ajeitando o corpo em uma confortável
posição para contemplar as nuvens vagorosas.
Rose
e Alfred Mason aconchegavam-se sob a mais alta e distante árvore do
parque. Deitados, dois montes de folhas mortas confortavam os gêmeos
enquanto os mesmos contemplavam a imensidão limpa acima deles. Os
extensos galhos impediam um choque desagradável entre seus olhos com
a cintilância dos raios solares, proporciando a eles a mais rica
vista do céu.
— Não
gosto de estar com os outros. Assim como eles não nos desejam. — a
resposta do irmão veio acompanhada de um tom repleto de
indiferência, ao mesmo tempo que Alfred despedaçava uma folha em
suas mãos.
Rose
guardou os sentimentos para si. Cessou a encarada ao rosto pálido do
irmão e voltou à contemplação do céu. Com esforço, negava o que
Alfred dizia, mas havia verdade em suas palavras. Fora os marginas
com quem mantém conversas, as outras pessoas não fazem questão de
sua companhia. A frustração atingiu sua cabeça tão fortemente que
foi impossível não emitir um gemido de raiva. Gostaria de estar
aproveitando da melhor forma seus 13 anos; estando ao lado de outros
adolescentes, marcando momentos e atingindo uma verdadeira
felicidade. Mas não podia evitar a encrenca, que batia em sua porta
apesar do empenho em contê-la. E
as pessoas têm medo do anormal,
pensou para si.
— Me
sinto um pássaro aprisionado. — cortando a ligeira quietude
chegada, Rose começara a falar. — Um pássaro sem asas que se
mantém preso em sua gaiola, observando as outras aves voarem em
bando no encantador céu azul. — disse, mais para si que para o
irmão -este que continuou a despedaçar as folhas em sua mão-
— Um
pássaro que já cobriu toda a escola com uma sombra?
Rose
riu assim que as memórias lhe bombardearam. Aos 10 anos havia, sem
querer, esticado uma sombra, fazendo-a ficar em volta de toda a
construção da escola em que estudava. Se metera em uma grande
encrenca após tal acontecimento, apesar de não saber explicar como
tudo havia ocorrido. As expressões de pânico lançadas em sua
direção, que outrora lhe perturbavam, agora meramente a divertiam.
— Ao
menos a minha sombra não atacou um colega de classe. — sucedeu com
um sorriso de prazer lhe escapando e se espalhando por todo sua face.
Alfred não gostava de aprofundar-se em suas memórias de episódios
catastróficos envolvendo a anormalidade.
— Eu
sinto vergonha desse dia, okay? — Albert finalmente deixou de
contemplar o o céu para fitar o rosto da irmã. Abafava um riso
enquanto relembrava o pequeno incidente. Tal impreviso havia ocorrido
em seus 8 anos de idade. Era pressionado pela professora por ter
pintado com as cores erradas o desenho distribuído à classe. Em
momento de pavor, sua sombra saltou do chão e derrubou o colega ao
seu lado. — E foi você que atiçou corvos contra a casa de
Cassidy, se esqueceu?
— Lembra
como todo mundo lá dentro se apavorou após a invasão dos pássaros?
— Rose ria. — As penas voavam para tudo quanto é lado e tinha
vizinho aplaudindo o ataque. — ambos lembravam-se nítidamente da
respectiva ocasião. Aos 6 anos, Rose discutia por uma boneca com uma
ex-vizinha, Cassidy. A fúria aponderou-se por toda suas entranhas
após levar um tapa, e quando se deu por conta, corvos voavam para
dentro da casa da menina em questão, derrubando seus objetos e
apavorando seus moradores.
Imediatamente
a tristeza e culpa substituiram as gargalhadas dos gêmeos. Apesar de
terem vivenciado situações cômicas, todas se estendiam com
anormalidades. Tais cenas sempre deixavam ambos abatidos depois de um
tempo. Eram aquelas coisas que distanciavam os outros deles. Não se
é agradável depois de um momento de reflexão; Alfred desculpava-se
inutilmente enquanto Rose apenas fingia não ter executado nada.
Apesar de reações diferentes, tanto o garoto quanto a garota eram
consumidos pelo forte desejo de ser normal.
Um
suspiro de aptidão e então as duas mãos pálidas se juntam
enquanto os olhos negros voltam a encarar a imensidão azul.